Policial Militar: profissão perigo

Por: Marcela Campos - Gazeta do Povo
Controle emocional, preparação física e capacidade de lidar com situações adversas são características obrigatórias para o oficial da PM.

Apesar dos riscos da profissão, os concursos públicos para ingresso na Polícia Militar (PM) atraem uma multidão de candidatos, que passam por processos rigorosos de seleção. Segundo o subchefe do Centro de Recrutamento e Seleção da PM do Paraná, capitão Dicésar Moreira Luiz, há duas opções para os interessados na carreira: a admissão como soldado ou como oficial (os postos superiores na hierarquia da corporação). 

“O último concurso para soldado ocorreu em 2005, com 21 mil candidatos para apenas mil vagas”, afirma. Já a seleção para oficiais é realizada pelo vestibular da UFPR. O candidato precisa passar no processo seletivo e, depois, na prova de habilidades específicas organizada pela PM.

No último vestibular da Federal, cerca de 900 estudantes disputaram as 17 vagas abertas pela PM. A relação candidato/vaga foi de 53,47, quase o dobro da relação de Medicina (27,64). O pior dos aprovados acertou 50 questões na primeira fase; o primeiro lugar acertou 67. As provas de habilidades específicas organizadas pela PM incluem exames de sanidade física e mental, capacidade física e pesquisa social.

“O índice de reprovação nas provas específicas é muito alto, por isso normalmente chamamos todos os aprovados para a segunda fase do vestibular da UFPR. O número de candidatos costuma ser cinco vezes maior do que o número de vagas”, explica o capitão Luiz, lembrando que até 50% das vagas podem ser preenchidas por mulheres.
Os estudantes com as melhores pontuações nas duas fases do vestibular e nas provas de habilidades específicas são, então, convocados para integrar a escola de formação de oficiais da Academia Policial Militar do Guatupê, em São José dos Pinhais. O curso dura três anos, com aulas de manhã, à tarde e à noite. “Os alunos estudam em regime de semi-internato. Eles permanecem de segunda a sexta-feira na instituição, onde dormem e fazem as refeições, e, caso não tenham nenhuma missão, são liberados no fim de semana”, descreve o capitão Luiz.
O comandante do curso de Formação de Oficiais da PM, capitão Paulo Henrique Semmer, explica que o candidato aprovado já ingressa na corporação como cadete e recebe um salário de aproximadamente R$ 1 mil durante os estudos. Segundo ele, o policial sai da academia como aspirante a oficial, posto no qual permanece durante um ano em situação de estágio probatório, quando o seu desempenho é avaliado. Após esse período, pode ser promovido a 2º tenente.

Mesmo com garantia de remuneração ainda durante o curso, o aspirante a oficial Adirley Wittkowski, 21 anos, diz que se sentiu inclinado a ingressar na carreira mais por vocação do que pelos atrativos financeiros. “Quando entrei nem pensava no salário. Esse não foi o fator preponderante”, afirma. 

Na academia, além de aprender técnicas de policiamento, tiro e defesa pessoal, Wittkowski estudou matérias como Direito Ambiental, Administrativo, Penal e Constitucional. Formado no fim do ano passado, ele trabalha atualmente na 1ª Companhia do 17º Batalhão de Polícia Militar de São José dos Pinhais, onde coordena e supervisiona operações da tropa. “Se há um evento, como um show ou um jogo de futebol, faço o planejamento, por exemplo, do número de viaturas e de efetivo que será necessário. Também vou ao local junto com a tropa”, explica.

Exames e pesquisa


As três etapas da seleção organizada pela Polícia Militar (PM) são eliminatórias, ou seja, só passam para a fase seguinte os candidatos aprovados na anterior. O teste de sanidade física e mental é composto por uma série de exames de saúde laboratoriais, que devem ser providenciados e pagos pelo próprio candidato, além de exames clínicos, realizados gratuitamente por profissionais ligados à PM. 

“Nessa etapa, o candidato irá gastar de R$ 280 a R$ 560, dependendo do laboratório que procurar”, calcula o subchefe do Centro de Recrutamento e Seleção da PM do Paraná, capitão Dicésar Moreira Luiz. Ele ressalta que vários problemas de saúde podem reprovar o candidato. Segundo o edital das provas de habilidades específicas, disponível no site da Universidade Federal do Paraná (UFPR), estudantes sem os dentes incisivos ou caninos, com desvio acentuado de septo nasal ou doenças alérgicas respiratórias, por exemplo, são automaticamente desclassificados.


Candidatos com tatuagens permanentes que chamem muita atenção também podem ser eliminados. “A junta militar responsável pela realização dos exames clínicos é que decidirá se a tatuagem reprova ou não o estudante. Já tivemos um candidato que apareceu com uma tatuagem no rosto e, por isso, foi eliminado”, lembra. 

Outra exigência da PM é que os homens apresentem Índice de Massa Corpórea (IMC) entre 18 e 30, e as mulheres, entre 18 e 28. Para calcular o IMC, basta dividir o peso, em quilogramas, pela altura ao quadrado (peso/altura²). “Até poucos anos atrás, só eram aprovados os candidatos que tivessem uma estatura mínima, mas hoje não há mais essa exigência”, afirma o capitão.

Ele explica que os candidatos aprovados nos exames de saúde são encaminhados para a prova de capacidade física. Nessa etapa, tanto as mulheres quanto os homens são submetidos a três testes: shuttle run (corrida de ir e vir), tração na barra fixa e corrida de 2.400 metros. “No ano passado, os homens deveriam fazer três flexões na barra, e as mulheres precisavam apenas fazer a pegada e ficar segurando, sem a necessidade de flexionar os braços. Este ano todos precisam fazer ao menos uma flexão e, quanto maior o número delas, mais pontos recebem”, descreve.
A última fase do processo seletivo, afirma Luiz, é a pesquisa social do candidato, realizada pelo setor de inteligência da PM. O estudante responde a um questionário, e os dados são comparados com as informações repassadas por terceiros em apurações feitas pela polícia. “É realizada uma pesquisa de campo. Vamos até a residência do candidato, conversamos com os seus vizinhos, procuramos os seus antigos locais de trabalho. Se constatarmos que ele convive debaixo do mesmo teto que um criminoso, por exemplo, é bem provável que ele seja reprovado”, afirma.
Hierarquia
Na Polícia Militar, o primeiro posto do oficialato é o de 2º tenente. Depois dele, em ordem crescente, há o 1º tenente, o capitão, o major, o tenente-coronel e o coronel, posto máximo da hierarquia. Abaixo dos tenentes, em ordem decrescente, está o subtenentes, 1º sargento, 2º sargento, 3º sargento, cabo e soldado. 


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